Educação
É dia de reencontro
UFPel inicia ano letivo de forma presencial, depois de mais de dois anos de aulas remotas
Jô Folha -
Depois de 29 meses de ensino remoto devido à crise sanitária ocasionada pela Covid-19, a Universidade Federal de Pelotas (UFPel) volta a abrir as portas para a comunidade acadêmica. A partir desta segunda-feira (1°), cerca de 16 mil alunos voltam a frequentar as salas de aula de forma presencial em todos os campi da UFPel. O retorno também é marcado pela série de estratégias criadas para tentar driblar o corte orçamentário de 7% anunciado em junho.
O preparo para receber a comunidade começou ano passado, quando houve a definição do calendário letivo, atrasado em um semestre. Ou seja, agora inicia 2022 na UFPel. A vice-reitora, Úrsula Silva, relembra que parte das aulas presenciais e as práticas já haviam retornado. “Agora vamos receber todos. A gente sabe que teve uma perda de estudantes que precisaram sair para trabalhar, que realmente tiveram que atender suas famílias”.
Sobre as evasões, a vice-reitora estima que o índice tenha sido de cerca de 18%. Para recuperar esses estudantes, a universidade está traçando uma série de estratégias. “Estamos fazendo levantamento de evasão, de permanência e diplomação. Esse movimento acabou gerando um motivador para criação de cursos noturnos e alguns que são integrais estão repensando a possibilidade de oferecer em pelo menos um turno”, conta. Outra ação é a visita nas escolas de Ensino Médio para apresentar o Programa de Avaliação da Vida Escolar (Pave) e 94 cursos de graduação. “Dizer o que a gente faz para que a comunidade se interesse e queira estar na UFPel. O desenvolvimento do país passa por aqui”, reforça.
Os alunos que estão chegando e os que estão retomando serão recebidos com uma acolhida cultural - que também irá comemorar os 53 anos da universidade - que ocorrerá durante a próxima semana. O evento tem a intenção de descontrair e ocupar os espaços da UFPel. Durante esses dias a gestão irá visitar as unidades para dar boas-vindas aos acadêmicos. “Muita gente ingressou durante a pandemia, os estudantes não conhecem a universidade então a gente vai fazer visitas, vamos nos colocar à disposição porque tanto nós como os estudantes estamos esperando por esse momento”, fala.
Retorno com orçamento defasado
De acordo com a Lei Orçamentária deste ano, a UFPel poderia contar com R$ 74 milhões para as despesas de 2022. Entretanto, na última semana de maio, um corte de 7% foi anunciado pelo governo federal, que representa uma queda de cerca de R$ 4 milhões. “Existe uma lei aprovada que nos estabelecia um recurso e nosso planejamento é de acordo com esse valor. Sofremos um corte e precisamos nos adequar a isso, sem aviso, ferindo qualquer planejamento”, declara o pró-reitor de Planejamento e Desenvolvimento, Paulo Ferreira, falando que a UFPel já carregava um déficit de R$ 5 milhões do ano anterior.
No dia a dia, os alunos perceberão os impactos da quantia. “A comunidade vai ver uma universidade evidentemente com menos recursos financeiros. Irão ver que os nossos serviços vão piorar”, lamenta Ferreira. Entretanto, Úrsula garante que todas as adequações foram feitas para atingir o mínimo possível os estudantes. “Não teve cortes de recursos das bolsas, nenhum corte na assistência estudantil. O atendimento do RU e a qualidade a gente manteve e tentou fazer o corte por outro lado, como na estrutura e na manutenção”, explica a vice-reitora.
Um exemplo do que poderá ser notado por alunos e professores é a quantidade de funcionários terceirizados, por exemplo. “A questão da quantidade de limpeza no dia a dia, da grama bem cortada. A manutenção está caindo pela metade e é o que vai ser mais sentido agora”, fala. O transporte será mantido nos horários mais necessários, já que provavelmente o número de motoristas será reduzido. “Estamos completamente limitados”, resume a gestora.
O pró-reitor reitera que a universidade nunca teve um orçamento tão baixo na história recente. “Nos reunimos por semanas para traçar estratégias para conseguir manter a universidade aberta até o fim do ano”, fala. Ferreira também faz questão de destacar como o momento político impacta na vida financeira das instituições públicas. “Desde o início deste governo o Ministério da Educação trabalha contra as universidades para criar desconfiança da população com a ciência. Isso que estamos colhendo têm efeito da pandemia, mas também do descaso do governo federal. Hoje a gente vive um ato de reexistência”.
Chegadas e partidas
Karoline Nedel, 23, começa, juntamente com o recomeço da UFPel, uma fase muito importante: a partir de agora ela é aluna da Faculdade de Medicina. Ela conta que se preparar para este momento com uma pandemia no meio foi desafiador. “Teve a parte boa de receber menos estímulos que me desviariam dos estudos, mas teve o lado ruim de se tornar um processo muito solitário, sem poder usufruir de aulas presenciais”. Agora, com as aulas remotas deixadas de lado, a expectativa do convívio com os novos colegas e professores é alta. “As aulas práticas são imprescindíveis para a formulação de um profissional capacitado. Além disso, as relações sociais formadas durante a universidade são importantes tanto para vida pessoal quanto pro futuro âmbito profissional”.
Ao mesmo tempo que uns chegam, também é momento de outros partirem. No próximo sábado, Laura Souza, 23, celebra o fim de um ciclo e a realização de um sonho: ser cientista social. Porém, se não fosse a crise sanitária, o tão esperado canudo já poderia estar em mãos há cerca de um ano e meio. “Encarar os últimos períodos foi um desafio gigante, principalmente pelas disciplinas práticas. Outra questão era a incerteza de pensar o que fazer depois da faculdade e não ter os colegas próximos para compartilhar”, explica.
A conclusão do sonho é resumida por ela como “uma vitória”. “É uma sensação de autorrealização por conseguir ultrapassar vários obstáculos que apareceram no meio do caminho, com a pandemia, mas também é uma sensação de tristeza pelo prejuízo que as universidades e a educação pública tiveram com o contexto da pandemia, mesmo sendo imprescindíveis para o combate da crise sanitária. É também uma sensação de resistência”, resume.
UCPel também volta às aulas
Os campi da Universidade Católica de Pelotas (UCPel) voltarão a receber os mais de três mil alunos matriculados, a partir desta segunda. A grande novidade para esse semestre é a implementação do novo modelo pedagógico, apresentado pela Pró-Reitoria Acadêmica na última semana, e que já começou a ser implementado.
Entre outras novidades vale destacar também a qualificação da maquetaria do curso de Arquitetura e Urbanismo e a entrega do novo espaço do Serviço de Assistência Judiciária e do Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania (Cejusc), localizados no Campus I. Além disso, seguem as obras no Campus Saúde para a construção de novos prédios, que darão suporte ao curso de Medicina.
De acordo com o pró-reitor Acadêmico, Ezequiel Megiato, com a construção do novo modelo pedagógico, a universidade visa a ouvir mais as demandas dos estudantes para que possa aperfeiçoar os seus processos, construir um caminho próprio e autônomo. “O ano de 2022 será tempo de diálogo, capacitação e construção”.
Os alunos que ainda estão com dúvidas sobre salas e grade curricular, por exemplo, devem entrar em contato com o coordenador de seus respectivos cursos. Além disso é importante estar atento ao e-mail institucional. Ele é o principal canal de informações oficiais. Os acadêmicos que tiverem algum tipo de dificuldade para acessá-lo, devem enviar e-mail para [email protected].
Acolhida aos novos alunos
Alunos que ingressaram no Vestibular de Inverno 2022, embora iniciem as aulas nesta segunda terão recepção exclusiva na quarta-feira. A atividade será realizada às 18h, no Lounge, no saguão de entrada. Na atividade terão a oportunidade de conhecer um pouco mais sobre a universidade e terão o contato com os coordenadores de seus cursos.
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